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A aprendizagem é um processo complexo, o qual é explicado por diferentes propostas por estudiosos da área da Psicologia e/ou da Educação. Por mais diferente que os aportes teóricos aos quais se embasam possam ser, podemos dizer que concordam que a aprendizagem envolve uma mudança. Essa mudança, no caso, pode se referir ao comportamento do sujeito, a suas estruturas cognitivas, às representações que faz a respeito de fenômenos do mundo, aos significados que constrói, às tarefas que executa, entre outros – elementos, esses, que diferem quanto à teoria considerada. Como nosso objetivo não é, neste momento, discorrer sobre todas elas, passaremos a considerar teorias de enfoque construtivista.
O construtivismo postula que a aprendizagem é um processo ativo, em que o sujeito é responsável por construir as próprias representações da realidade que os cerca. Essas representações são subjetivas, uma vez que são resultantes do ancoramento de novas informações aos conhecimentos prévios que o sujeito detém – conhecimentos, esses, fruto de suas vivências e experiências. Considerando que a realidade sociocultural é distinta entre os sujeitos, podemos concluir, pois, que a aprendizagem é, em alguma instância, um processo individual (aqui, é importante ressaltar que não negamos a relevância das interações sociais à aprendizagem).
Essa conclusão também foi verificada por Grimes e Schroeder (2015) em seu estudo que teve como objetivo investigar como se davam os processos de construção conceitual a respeito da “origem da vida” por parte de estudantes do Ensino Médio de uma escola pública situada em Santa Catarina (SC). No caso, os pesquisadores perceberam que esse processo se deu, em alguma instância, de forma individual entre os estudantes, ao ser influenciado por aspectos culturais e afetivos de suas respectivas realidades. No entanto, puderam determinar três estágios principais de pensamento conceitual sobre a “origem da vida” – entre os quais foram alocados os estudantes ao final das aulas ministradas sobre a temática. Os estágios foram: a não transformação de suas concepções prévias; a não transformação de suas concepções prévias, porém seu questionamento; e a transformação de suas concepções prévias. Os pesquisadores perceberam que aqueles que não tiveram suas concepções transformadas completa ou parcialmente (pertencentes aos dois primeiros estágios citados) foram aqueles cujas concepções possuíam forte influência de fatores sociais e culturais, como crenças religiosas.
Os resultados do estudo são muito interessantes e podem contribuir com o aprimoramento do trabalho com o tema “origem da vida” durante as aulas de Ciências da Natureza. Além disso, eles evidenciam a importância de nós, professores(as), estarmos atentos em nossas aulas ao entendimento de nossos estudantes em relação aos conteúdos que trabalhamos (sejam eles relativos à origem da vida ou a qualquer outra temática), uma vez que podem não transformar suas percepções espontâneas a respeito deles. Para evitar cenários como este, faz-se necessário que constantemente verifiquemos indícios de sua aprendizagem. Assim, ao percebermos a manutenção de tais percepções, devemos planejar nossas práticas de modo que elas sejam significativas a ponto de contribuir com o aprendizado dos estudantes em consonância com os conhecimentos aceitos na comunidade científica.
Caso queira fazer a leitura do estudo mencionado na íntegra, clique aqui.
Referência:
GRIMES, Camila; SCHROEDER, Edson. Os conceitos científicos dos estudantes do Ensino Médio no estudo do tema "origem da vida". Ciência & Educação, Bauru, v. 21, n. 4, p. 959-976, 2015.